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O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Centro de Memória Procurador de Justiça João Marcello de Araújo Júnior (CDM/MPRJ), realizou, na tarde de segunda-feira (01/10), mais uma gravação do projeto Personalidades do MPRJ. O entrevistado da sexta edição do programa foi o ex-procurador-geral de Justiça, Arnoldo Wald – o mais jovem da história da instituição, tendo assumido a função aos 33 anos de idade. O talk show é apresentado pelo procurador de Justiça Márcio Klang, coordenador do Centro de Memória.
Coube ao procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, saudar o público presente. “É muito importante manter viva a história da nossa instituição, bem como de todo o sistema de Justiça. Nosso Centro de Memória vem se destacando nesta missão. Recentemente, tivemos no Rio o lamentável episódio do incêndio do Museu Nacional, com perdas históricas que não serão repostas. Por isso, é importante saber que o MPRJ preserva a memória de seus integrantes. No dia de hoje, a presença do doutor Arnoldo Wald é motivo de honra. É uma grande referência pois, além de suas qualidades jurídicas, foi chefe da nossa instituição nos anos de 1966 e 1967, tendo sempre se destacado pela integridade e pela forma correta e reta com que conduziu seus trabalhos”, destacou.
Logo no início da entrevista, gravada na Associação do Ministério Público (Amperj), Arnoldo Wald definiu a si próprio. “Sou um advogado. Um advogado lutador, que já foi do Ministério Público, que já foi presidente da Comissão de Valores Mobiliários, e continua sendo um apaixonado pelo Direito. Creio que seja um defeito, continuar apaixonado assim, mesmo depois de 65 anos de exercício da profissão. Deve ser uma espécie de distúrbio, mas acontece, né?”, disse, arrancando risos da plateia e, logo na sequência, falando com seriedade. “Fui advogado imbuído do sentido de me comportar como defensor dos direitos. Tarefa que cabe também ao Ministério Público e ao procurador-geral de Justiça”, sentenciou.
Nascido em 28 de junho de 1932, na Bélgica, Arnoldo Wald é brasileiro por opção. Chegou ao Brasil em 1940, com 8 anos de idade, fugindo da perseguição nazista, durante a 2ª Guerra Mundial. Estudou no Colégio Mello e Souza e no Liceu Franco Brasileiro, no Rio de Janeiro. Cursou a Faculdade Nacional de Direito, da UFRJ. Depois, obteve a livre docência na Faculdade de Direito de Niterói - atual Faculdade de Direito da UFF. Ingressou na Procuradoria Geral do Estado em 1962, por concurso público, no cargo de procurador do Estado. Poucos anos depois, atendeu ao convite do governador Negrão de Lima para assumir o comando do Ministério Público.
Ao longo da entrevista, o convidado recordou das dificuldades estruturais do MPRJ naquela época. “Já tínhamos um Ministério Público muito atuante, mas com dificuldades. Não contávamos com as instalações de que hoje dispomos. E o aspecto material também é importante, para que o pessoal possa trabalhar. Nossas instalações eram, de fato, muito humildes. Basicamente, uma sala na Rua Dom Manuel, e depois conseguimos a mudança para dois andares da Rua Nilo Peçanha, que pertenciam ao Banerj. Nada comparável às que temos hoje, mas que permitiram o melhor desenvolvimento dos nossos setores, inclusive no sentido de sair da tutela do Poder Judiciário, com quem dividíamos espaço. Pois o MPRJ precisa de sede própria, não pode ficar em locais emprestados. Precisa de autonomia material, também”, disse.
A atuação do MPRJ nos primeiros anos do regime militar, após o golpe de 1964, também foi lembrada por Arnoldo Wald, que definiu o papel da instituição na sociedade. “A liberdade de imprensa é sagrada, e o MPRJ tentou ao máximo preservá-la, em especial no caso do Correio da Manhã, jornal que foi combativo, contrariando o poder, sofrendo restrições e arriscando-se do ponto de vista empresarial. Além do papel de acusador, o Ministério Público é o defensor da lei. Tivemos e temos procuradores com o espírito de fazer da instituição uma entidade autônoma independente, sem obediência ao Executivo ou submissão ao Judiciário, de forma a garantir o bom funcionamento do Estado de Direito. É um elemento moralizador, de luta contra irregularidades e ilicitudes, praticadas por particulares ou agentes do Estado. Defendemos não só o interesse público, mas as liberdades individuais”, pontuou.
Márcio Klang falou sobre sua relação com Arnoldo Wald e fez um balanço da atração por ele apresentada. “Ele foi meu professor na Universidade do Estado da Guanabara, atual Uerj, e orientador em minha dissertação de mestrado. Depois, trabalhamos nos idos de 1975 e 1976, o que representou grande honra para mim. Quando resolvi fazer o projeto Personalidades, de forma intuitiva, não tinha a noção de que estaríamos fazendo o que hoje se chama história pública. Nosso programa conta com transmissão ao vivo por streaming, depois fica disponível no site do MPRJ e ganha até versão impressa, publicada na Revista do MP. Assim, preservamos e damos visibilidade à história da nossa instituição. Acho que, aos poucos, vamos construindo um rico acervo, atingindo nossos objetivos”, resumiu.
O programa Personalidades do MPRJ teve como convidados, nas cinco edições anteriores, os procuradores de Justiça aposentados Jarcléa Pereira Gomes, Antônio Carlos Biscaia, Everardo Moreira Lima, Déa Araújo de Azeredo e Sergio D’Andréa Ferreira, além do procurador Afrânio Silva Jardim e do promotor Marcelo Lessa Bastos. A gravação da sexta edição, com Arnoldo Wald, contou com a presença de membros na plateia, como a corregedora-geral, Luciana Sapha; os procuradores Ertulei Laureano Matos, Maria Cristina Palhares dos Anjos Tellechea, Fernando Chaves e do desembargador José Muiños Pinheiro Filho; além do promotor Virgílio Panagiotis Stavridis, chefe de gabinete, e dos procuradores aposentados Everardo Moreira Lima, Sergio D'Andréa Ferreira e Maria Teresa Moreira Lima.
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