O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 30ª Promotoria de Investigação Penal, denunciou líderes de um centro religioso por abusar sexualmente de seguidores em supostos rituais de iniciação tântrica, além de estelionato e exercício irregular de profissão. Os denunciados Marcelo Antonio Marques Prazeres, Leonardo Campello Ribeiro e Jayson Garrido de Oliveira são, respectivamente, presidente, vice-presidente e médium ativo do Centro Espiritualista Semeadores da Luz (CESL), casa que prega o universalismo como filosofia, reunindo vertentes religiosas de umbanda, candomblé, Igreja Gnóstica Cristã e correntes orientais.
A denúncia narra que Marcelo e Leonardo são pessoas inteligentes, com profundos conhecimentos religiosos e alto poder de persuasão, pois agem usando a incorporação de supostas entidades, supervalorizando rituais de iniciação, pregando posturas celibatárias e de renúncia material para conquistar a confiança dos frequentadores do centro religioso, que muitas das vezes estavam emocionalmente vulneráveis e por isso eram iludidos em sua fé.
Na condição de líder espiritual, Marcelo (e as entidades que incorporava) conduzia as práticas de iniciação religiosa, além dos rituais tântricos em que praticava atos libidinosos. Foram mais de 100 abusos praticados por ele no período de 2009 a 2016, sempre de modo parecido: as vítimas, em consulta com entidades incorporadas por Marcelo, eram informadas que estavam prontas para serem iniciadas pela autoridade máxima espiritual e sabedora dos segredos de cada iniciação ritualista – o próprio Marcelo. Durante essas supostas práticas religiosas, as vítimas (homens e mulheres) eram violadas sexualmente, com toques, masturbação e penetração. Segundo a denúncia, as vítimas não desconfiavam porque admiravam e acreditavam naquele homem como mentor espiritual.
A denúncia relata que Leonardo tinha ciência dos abusos sexuais e não os impediu, incentivando as vítimas a obedecerem à vontade de Marcelo. Ele também é denunciado por praticar atos sexuais mediante meio que dificultava a livre vontade da vítima, uma vez que se utilizou de discurso semelhante, de que uma entidade determinara que tivessem relações sexuais.
O terceiro denunciado, Jayson, como médium antigo do CESL, praticou ato libidinoso com duas vítimas – uma delas com 15 anos. Ele convencia as vítimas a praticar de maneira sigilosa a chamada “magia vermelha” que resolveria os problemas emocionais e materiais delas. Durante esses rituais, beijou a boca e passou a mão nas partes íntimas da menor de idade, além de masturbar a segunda vítima.
Leonardo também é denunciado por fingir ser psicólogo e exercer irregularmente a profissão ao menos 67 vezes com vítimas diferentes, cobrando pelas sessões realizadas em um consultório dentro do CESL.
Por trás das consultas havia um viés perverso, uma vez que, segundo a denúncia, Marcelo se aproveitou das informações privadas compartilhadas pelas vítimas nas sessões de psicologia para utilizá-las durante conversas e supostas incorporações de entidades. Sabendo de segredos e de detalhes íntimos delas, ele os usava para iludir as vítimas que ficavam impressionadas e fanáticas.
Eles foram denunciados no artigo 215 (violação sexual mediante fraude), com pena prevista de reclusão de 2 a 6 anos, e no artigo 171 (estelionato), com pena de 1 a 5 anos, ambos do código penal.