Notícia
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Publicado originalmente em 19/12/2017
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) participou, nesta segunda-feira (18/12), de reunião com representantes da diretoria do Flamengo, para avaliação dos graves fatos ocorridos na última quarta-feira (13/12), do lado de dentro e no entorno do Maracanã, em partida realizada contra o Independiente, na decisão da Copa Sul Americana. Na ocasião, o estádio foi invadido por cerca de oito mil torcedores, e houve episódios de violência e depredação do patrimônio público e particular.
“Os fatos ocorridos, sem dúvida alguma, são extremamente preocupantes, lamentáveis. As imagens falam por si. O presidente do Flamengo, Eduardo Ribeiro de Mello, pelo que me relatou há pouco, tem total consciência da responsabilidade do clube mandante – antes, durante e depois da realização dos jogos. É importante que o Flamengo assuma isso, do mesmo modo que os torcedores tenham a consciência de que são partícipes deste espetáculo, e igualmente responsáveis por tudo o que possa acontecer. Vamos analisar o expediente que nos foi entregue, encaminhá-lo para o Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (Gaedest/MPRJ), e adotaremos todas as medidas cabíveis”, afirmou o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem.
A promotora de Justiça Glicia Viana, integrante do Gaedest/MPRJ, fez questão de ressaltar as próximas ações do MPRJ neste caso. “Já iniciamos as investigações para apurar os fatos e contatamos os órgãos competentes, que deverão tomar as providências para que novos episódios como esses não ocorram. A suspensão das torcidas e a prisão daqueles que forem identificados, a partir dos inúmeros vídeos, são algumas das medidas previstas”, explicou. “Vamos aprofundar as investigações, fazer as análises necessárias e, em breve, apresentar as respostas à sociedade”, salientou Glicia.
Em coletiva concedida no gabinete do PGJ, o presidente do Flamengo, explicou o motivo da reunião. “Este encontro parte do princípio que estamos todos envergonhados com o que aconteceu. Envergonhados enquanto brasileiros, enquanto cidadãos cariocas e, sobretudo, como flamenguistas – pois vimos que quase a totalidade dos vândalos e invasores usava a camisa do Flamengo. Estamos profundamente consternados com isso. Principalmente sabendo que os mais de 50 mil torcedores que compraram seus ingressos, e estavam lá, de forma ordeira, dentro do estádio, também foram vítimas desses bandidos, de saques, intimidações e agressões. Isso nos incomoda bastante. Por isso, trouxemos elementos concretos que comprovam tudo o que o Flamengo fez antes do jogo para tentar impedir esses acontecimentos. Os reiterados avisos que foram dados”, apontou Eduardo Ribeiro de Mello.
Ciente de fatos como as ameaças de invasão, a presença de milhares de argentinos sem bilhetes na cidade e o grande número de ingressos vendidos, os dirigente do Flamengo alertaram as autoridades da área de segurança acerca da necessidade de atenção especial em relação ao evento. “Todos aqui reunidos sabem que essa invasão estava programada com mais de uma semana de antecedência”, disparou. No entanto, Eduardo Ribeiro não quis ser taxativo em suas críticas aos órgãos de segurança, antes que seja feita uma análise cuidados dos fatos ocorridos.
“Queremos nos colocar completamente à disposição das autoridades, a começar pelo MPRJ, para que possamos minimizar e prevenir o que possa acontecer daqui pra frente. Precisamos evitar esse estado de coisas, que só envergonha e deprecia a nossa cidade e o futebol do Rio de Janeiro. E faço questão de ressaltar meu apreço e admiração pelo trabalho do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), na figura do major Silvio Luiz que, apesar de operar em condições claramente adversas, em função da atual crise no estado, tem feito o possível para minimizar essa questão de confrontos entre torcidas. Se não fosse pela ação dele, alguma coisa ainda mais grave certamente poderia ter acontecido”, ponderou.
O PGJ destacou qual será o foco principal de atuação do MPRJ a partir do episódio. “Infelizmente, a violência nos estádios é um fato que acontece de forma reiterada. Precisamos combatê-la. Da mesma forma, lamentavelmente o crime organizado tem se infiltrado nas estruturas das torcidas organizadas. E é nesse sentido que o MPRJ vai focar sua atuação”, adiantou Eduardo Gussem, que fez uma análise sobre os confrontos ocorridos no Maracanã. “Não descarto a realização de uma perícia, com análise detalhada de eventuais vulnerabilidades do estádio. Mas creio que o problema não está no Maracanã, que está acima da média dos estádios mundiais. O problema, me parece, esteve na alta concentração de pessoas e na falta de previsibilidade diante dos alertas que foram dados”.
O presidente do Flamengo, que participou da reunião acompanhado por Flávio Willeman, vice-presidente Jurídico do clube, destacou que dará apoio incondicional a qualquer medida a ser adotada em nome da segurança. “Tudo o que estiver ao nosso alcance, nós vamos fazer”, disse, listando como possíveis providências a revisão do esquema de venda de entradas por carregamento de cartão, a emissão de alguma espécie de recibo que comprove previamente a aquisição do ingresso, e até mesmo rediscutir a utilização do Maracanã pelo Flamengo, como sugerido por Fred Luz, CEO do clube. Eduardo Ribeiro, no entanto, considera esta uma medida extrema. “O Flamengo, inclusive, sempre se candidatou a ser o concessionário do estádio. O Maracanã é a casa do Flamengo. Espero que isso não seja necessário”, concluiu.
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